As
reiteradas falas de Dilma (PT) a respeito do impeachment, classificando-o como
golpismo, são um claro sinal de que esta possibilidade lhe causa incômodo - ou
mesmo medo. Travando o combate, a presidente se coloca como defensora da
democracia, e pede à oposição que respeite o resultado das urnas.
Dessa
maneira, o que fazem as atuais forças governistas é apequenar a democracia,
reproduzindo dela uma concepção própria das classes dominantes, uma concepção ritualista
e funcional ao sistema. Mais uma prova cabal de que o PT já não educa as massas
para a luta de classes, e sim as estupidifica.
Vale
sublinhar que um impeachment só será possível, se Dilma, que ganhou nas urnas,
continuar perdendo no governo. Ela não pode pedir ou exigir que seus
adversários respeitem o resultado das urnas, se ela mesma não respeita. Os
eleitores não depositaram apenas votos naquelas urnas. Depositaram também
confiança. Não é possível, honestamente, defender aqueles e desprezar esta.
O
voto e a confiança não foram depositados apenas em Dilma, mas no projeto que
ela apresentou durante as campanhas e que, hoje, virou pelo avesso. Isso mostra
que defender o atual governo e defender a democracia são coisas bem diferentes.
Por certo, o governo foi
eleito “democraticamente”. Todavia, como vem demonstrando, este só se efetiva
antidemocraticamente, colocando a perder até mesmo o que de positivo chegou a
construir. É uma lição já antiga, a de que a austeridade é a mais completa
negação da democracia. Bem o sabiam os pais do neoliberalismo (Hayek e M.
Friedman), que nunca hesitaram em atacar os direitos sociais. Foi emblemático
que a entrada do neoliberalismo no Chile tenha sido antecedida pelo golpe que
derrubou Salvador Allende.
Por isso, um governo da oposição
não teria muito trabalho para desconstruir as políticas sociais que o governo
do PT construiu. Ele mesmo já está reduzindo tudo a pó! De outra banda, a opção
do governo pela austeridade tornou a oposição (direitista) supérflua. O governo
já é, por conta própria e convicção, elitista, neoliberal, golpista, corrupto,
antitrabalhista, déspota, parasita etc.
Diante
do avanço da proposta de impeachment, o governo segue buscando amparo no
Congresso, pagando alto preço por um apoio fraco, incerto e imoral. E assim,
pois, vai cavando a própria sepultura. As opções desastrosas podem até não
aumentar o número dos “golpistas” que saem às ruas pedindo seu impedimento, mas
certamente diminuem o número daqueles que sairiam às ruas em sua defesa.
Para os trabalhadores e
movimentos sociais, pouco importa se as mãos que impõem sacrifícios a eles são
da “direita azul” ou da “direita vermelha”. Não é preciso gastar saliva para
mostrá-los que um governo da oposição lhes traria malefícios. Mas falta ainda
ao governo convencê-los de que sua permanência traria benefícios. A sorte do
governo há de lhes interessar quando a sorte deles interessar ao governo. Não
se pode cobrar apoio dando desprezo em troca.
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