Trabalhadores em Educação do Acre e povo grego, unidos pela luta e vítimas das mesmas manobras.

Por Antonio Rocha*

Recentemente o Filósofo e Professor da Faculdade de Filosofia da USP, Vladimir Saflate, publicou um excelente artigo no site da Fundação Lauro Campos, onde faz uma reflexão  acerca da resistência dos gregos que disseram NÃO ás imposições da  'troika', formada pela Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional. A 'troika' se utilizou de todos os mecanismos para tentar "inocular no povo grego o medo em relação à sua própria força de decisão". 

Sobre a tática utilizada pela 'troika',  Saflate foi contundente ao afirmar que: "Uma das armas mais perversas do poder é levar os sujeitos a se verem como impotentes e incapazes de operar grandes transformações. O poder age deprimindo-nos, ou seja, levando-nos a crer que não temos força, que as causas de nosso sofrimento social são demasiado complexas para termos o disparate de querer mudar o rumo dos acontecimentos".

Fazendo um paralelo entre a luta do povo grego e a luta dos trabalhadores em educação do Estado do Acre, é possível perceber uma enorme semelhança entra a tática usada pelos tecnocratas da 'troika' e as utilizadas pelos representantes do Executivo acriano. 

Em greve a quase um mês, lutando pela garantia de seus direitos, os trabalhadores em educação do Acre, têm sido vítimas constantes de uma enxurrada de manobras implementadas pelo Executivo Estadual e disseminadas por seus asseclas travestidos de comunicadores que, a todo instante, tentam desqualificar a greve dos professores e demais  servidores da educação, numa  tentativa bizarra de enfraquecer o movimento. 

Discursos apelativos e rasteiros são construídos e disseminados a todo instante para desqualificar a luta dos trabalhadores junto à opinião pública como se eles fossem os  responsáveis pelo fracasso da educação no Acre. Alguns desses discursos colocam os professores grevistas como  verdadeiros vilões que lutam em causa própria e não respeitam a "grande maioria" que deseja continuar no "mundo das maravilhas" proporcionado pela tal "pátria educadora".  

Para ilustrar essa singela observação, vejamos alguns  fragmentos de textos extraídos de colunas e sites que noticiam o assunto:

“É lamentável que esses professores decidiram manter o movimento, mas nada que implicará ou atrapalhará o curso normal do ano letivo, pois 83% das escolas do Acre estão funcionando normalmente, 10% funcionando parcialmente e apenas 7% é que tiveram suas atividades paralisada totalmente, isso demonstra que apenas um pequeno grupo é que está realizando esses manifestos”.

Esse tipo de discurso tenta colocar o governo como vítima dos vorazes professores. Mas quando não conseguem convencer a população, surge, outros mais incisivos que sugerem ao chefe do Executivo Estadual intervenções antidemocráticas mais firmes, colocando um ponto final nas mobilizações:

"O governador Tião Viana devia ter se pronunciado sobre a greve, dizendo que não há como dar um centavo de reajuste, no início do movimento. Mas, mesmo um pouco tarde deu um ponto final ao fazer o anúncio oficial. Se não há como dar nada, nada justifica abrir negociação".

Se ainda assim, o movimento continuar resistindo, a tática utilizada é tentar fazer com que haja esmorecimento por parte dos trabalhadores em greve: 

"A greve pode continuar, mas a direção do SINTEAC fica sabendo que não vai conseguir nada. Não vai adiantar interditar pontes, invadir órgãos públicos, porque não vai resultar em ganho"

Se mesmo assim os educadores ainda não entenderem o recado, vem a complementação do argumento: 

"Como as coisas estão postas na mesa esta será uma greve sem conquistas, a direção do SINTEAC sairá de mãos abanando. É a velha história: o que não dá para resolver está resolvido".


O que esses ilusionistas não falam é que o Governo mesmo dizendo que abriu as negociações, o diálogo com os trabalhadores tem se restringido apenas à informação de que não há dinheiro e a equipe de negociação só vai conversar em setembro. Os números oficiais apresentados pelo Governo para justificar a impossibilidade de reajuste salarial, são contestados pelos trabalhadores. 

Ao que se percebe, existe uma tentativa de fazer com que os trabalhadores retornem aos seus postos de trabalho e fiquem orando para que ocorra um processo de negociação em setembro.

Mas a resistência continua e o comando de greve, aparentemente, entendeu os propósitos de Marx e Engels em sua Crítica da Educação e do Ensino, onde diziam que "a miséria não ensina apenas o homem a orar, mas ainda muito mais: a pensar e a agir”. Os trabalhadores e trabalhadoras em educação entenderam esse recado e a greve continua.

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* É um cidadão comum, militante das lutas sociais, que acredita no socialismo como instrumento para minimizar as mazelas que assolam a sociedade.

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